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22.11.15

{ COLEÇÃO }



                "Todo artista é um observador nato, um colecionador de imagens, que recorta da realidade pequenos fragmentos que compõem um micro universo de coisas sensíveis que abrem caminho para tangenciar relações com o abstrato que por vezes escapam à percepção consciente dos demais. Seu olhar acurado, minucioso, detecta na trivialidade, no cotidiano, a fagulha capaz de incendiar o terreno e botar abaixo o instituído.

                Em meio a um mundo de constatações, referentes que se impõem, imagens que representam, vive o artista nos limites do qualitativo. Instigado pela sugestão, por aquilo que se apresenta, mas ainda não representa, ele caminha lentamente, apropriando-se do que atentamente vigia. É dessa vigilância que emerge o interesse de Érica Campos pela infância, pelo laço familiar que une toda uma genealogia de relações estabelecidas concreta ou abstratamente com o meio doméstico.

                Percebe-se em sua poética uma dualidade, uma alteridade, reveladora de uma inocência madura. Ao mesmo tempo em que vigia, se apropria, age, toma como seu um corpo alheio que lhe permite experiências novas, livres, enriquecedoras. Envolve-nos com cenas ternas que evocam memórias recentes e antigas. Nessa tessitura, alinhava imagens e referências de forma não linear, compondo delicadas coleções convidativas. Observar, participar, recordar, resgatar, vivenciar são verbos a serem conjugados pelo expectador.

                Não se pode deixar de perceber o cuidado matriarcal que Érica Campos tem com sua produção. O rigor da técnica, a quase ausência de cor, a pequena dimensão, tudo é controlado para que não haja mácula, nenhuma distração que retire a atenção do momento para que ele permaneça e possa ser ressignificado."
                                                                                            
                                                                                              Fernanda Monteiro

A menina no balanço